10.6.09

Lá em Dona Darcy era assim , visse? As pessoas iam se conhecendo, se conhecendo até ninguém saber quem é quem. Saraiva mermo era das Minas Gerais, jogava capoeira, boxe tailandês e, ainda por cima, tinha a arte nas mãos: pois num é que o homi pintava. Chegou pra mim e disse que não podia me desenhar porque tava bicado, mas era só por causa disso, num sabe? E Saraiva pegou o pote da garrafa do bar e fez um barulho arretado, cantava que só e ainda reclamava da muié sem vergonha dele, a danada foi simbora e deixou ele sem nada, sem violão e sem celular, mas vê se pode um absurdo desses.

Já do lado de lá, um homi com aqueles chapéus de revolucionário, metido àquele menino famoso, Chá, Chi, Che, sei lá como é. Pois eu sei que esse menino sentou do outro lado, cruzou as pernas, tirou um cigarro do bolso pra combinar com a blusa dessas bandas inglesas e disse um monte de poesia, rapaz. Me parece que ele guardava as esperanças vermelhas de uma revolução que ainda ia acontecer, visse? Quando ele abriu a boca, saiu tanta coisa bonita, mas tanta coisa bonita que o povo todo ficou de boca aberta, inclusive quem tava lá na calçada, só espiando as coisas de dentro. Ouxe, teve gente até que se ajoelhou.
Eita, eu me esqueci de contar né? Tinha outro moço lá, mas o bicho era amostrado que só e tinha uma voz tão alta que dispensava qualquer microfone. Nem desafinava o miserávi, mas doía o ouvido, visse? É porque era alto demais, homi, num sei pra quê aquilo tudo não. E todo mundo ria da amostração sem tamanho. Mas o tal do moço chegou até a minha mesa e perguntou: “Maga, tais mangando de quem?” E eu podia dizer que era dele? Não né? Pois eu sei que continuei mangando e a noite todinha. O homi era grande, tinha uma voz de cantor importante e num aceitava não o que o outro menino cantava, visse? Chegou pra ele e mandou parar de tocar aquelas mungangas, vê se pode. Deve ser porque o homi num entendia dessas modernidades, menino novo fazendo música achando que o macaco véio ia entender. Aí tu sabe né? Eu ria, menino, mas eu ria tanto que sei não, num sei como num deu um revestrés na minha barriga.

Sim, escuta só, num tem aquele homi todo, que vivia se amostrando lá ? Pois esse homi mermo chorou, meu filho. Foi só falar de uma Mariana, a filha dele que também era melhor amiga e também era num sei o quê, era uma confusão da miséria, sei se entendi não, só sei que quando ele falou dessa pirraia, os óinho dele ficaram perto de se afogar. O caba se emocionou demais visse? Chega deu aquela coisa em mim. Num sabia se discursava, se calava, se cantava. Olhe, essa vida é uma doidice.

Pois bem, eu num vou me demorar não, só vim aqui prosear um tiquinho enquanto o café lá da venda num sai. Eu precisava te contar as belezuras de Dona Darcy. Ouxe, tu num sabe onde é não? É lá nas Olindas, nos quatro cantos enfeitados de amor. Vá lá, ví? Tome uma cervejinha gelada, sente na mesa cheia de gente, ou até na calçada mesmo, ninguém lá liga pra essas frescuras não.Se tu num tiver violão, leva uma latinha, um copo de plástico, qualquer coisa, menino, oxe. Ou só leve o coração, mas se assuste não se ele ficar virado no mói de coentro. É poesia pura, moço.
Oa, tou indo, visse? Mas passe lá mermo. Ah, mas diga a Dona Darcy que eu mandei um cheiro.

6 comentários:

Narradora disse...

Assim, mesmo sem ir, gostei desse lugar...
Bjs

Thaís Salomão disse...

semana que vem a gente vai pra lá, ver a doida das lantejoulas!

Vanessa Cristina disse...

Deu até para ouvir o sotaque...
Ah, cheirin de café da venda!


Beeeijo
:*

Jaya Magalhães disse...

Eu preciso ir até Dona Darcy. Hoje, seria o dia exato.

Morri de rir com o "revestrés".

Huahuahauhauahaua.

Beijo beijo beijo.

Ruberto Palazo disse...

QUe delicia esse texto, visse!! Vou é ter uma prosa com Dona Darcy sobre esses cabra poeta, sabe? E ver se tem espaço para mais um metido a poeta das modernidades....

Beijos

Sunflower disse...

eu quero, eu quero ver a doida das lantejoulas!!!!

beijas