É um vazio. Uma coisa em
branco. As perguntas se misturam na cabeça como uma convulsão sem fim. Parecem
cores que vão se sobressaindo até dar a cor nenhuma. As frases vão passando em
uma velocidade que não deixam nem vestígio, nem uma referência aparece para uma
conversa inteligente. Porque é inteligente mostrar referências, não é? Soa como
um diferencial. Meus dedos estão tremendo ao digitar, letra por letra, esse
texto. Tremem como se eu precisasse me livrar de algo tão incessante e grande
que até erro a montagem das sílabas. Erro visivelmente. Esse barulho ensurdecedor
avança na minha cabeça como uma praga. Parece até que vou explodir por não
construir uma frase que seja. Baixar o volume já não é possível. Gritar já não
é possível. Iria gritar tão alto que pareceria até clichê. E o meu maior medo é
cair na mesmice, na banalidade de um dia a dia. Existe algo mais clichê do que
o medo de cair no clichê? Do que esse discursinho barato de uma diferenciação
que é tão igual quanto à simplicidade de ser? Preciso me desfazer dessa agonia,
esse barulho, esse tremor. Parcele em ate 18 vezes. É pensando em você que fazemos os nossos produtos. Será que ela não
percebe que os meus dedos tremem e o barulho que faço ao digitar as letras
nesta tela em branco quer ser bem maior do que a tranquilidade em que ela
assiste a Tv? Ela assiste como se nada estivesse acontecendo aqui, como se essa
angustia não fosse tomar a casa inteira no próximo instante. E vai. Eu tenho
certeza que vai invadir todas as paredes e vai nos engolir como os dias que
passam, sem que ninguém perceba. No mais absoluto silêncio. Ela não percebe que
minha cabeça vai explodir em frases que têm dentes e que me mordem por vários e
vários dias. Frases não, letras imensas, pesadas. Ela não percebe que a minha
dor é muito maior do que se possa imaginar. E ela fala comigo como se nada,
nada, nada estivesse acontecendo. E tá, meu deus. É claro que está. Ela não
está vendo que estou afundando? Ela não está vendo que saltam dos meus olhos as
letras que não conseguiram sair? Só eu consigo. Só eu. Porque a minha dor é
maior do que todas e o meu egocentrismo também. Porque eu posso ser
egocêntrica. Eu posso ser o que quiser. Amanhã não tem mesmo aquilo que chamam
de dia e eu vou morrer hoje. É estranho escrever isso. Acho que nunca havia
escrito na minha vida. Dá um medo, faz os olhos se esbugalharem. Não, eu não
vou morrer hoje. É só uma verborragia absurda que vem da minha cabeça e salta
para os meus dedos. É só uma tentativa de fazer referências e de se livrar
dessa coisa que anda esmagando todas as minhas entranhas. É uma tentava absurda
de tentar respirar qualquer coisa que seja. É uma tentativa. Absurda, banal, de
merda. Eu queria ser artista. Queria subir no palco e me transformar em
qualquer coisa que fosse. Queria viver e reviver todos os traumas e
questionamentos humanos e me livrar deles depois de uma hora de espetáculo. Mas
não, eles ficam entranhados em mim por uma semana. Eu assisti e vim para casa
com essa necessidade mais do que orgânica de despejar a minha plateia. Essas
tantas que ficam se empurrando entre as perguntas que, volta e meia, retornam.
Porque elas sempre retornam. Nas mais inusitadas horas elas estão me
espancando. É um soco ainda. Descobri, é um soco. Essa porrada que me deram
ainda faz com que a minha cabeça rode, rode e não encontre eixo nenhum. Se
abstraia dentro de um universo que nem é familiar. Nada é familiar. Eu respiro
fundo e treino todas as técnicas de sobrevivência pra sair desse redemoinho e
acalmar meus dedos. Mas não funciona. Nada funciona nada. Nada serve. Nada. Nem os pontos aqui se
encaixam, nem as letras servem e estão no seu devido lugar. Escrevo tudo errado
e quando volto para acompanhar a leitura, nada está compreensível. É como
aquele vazio que se instalou em mim e como se surgisse, agora, a cor do nada. Nem
um texto decorado. Nem uma passagem lembrada. Só lembro daquela parte em que ele bota a mão na cabeça como se pelos
orifícios que ainda estão abertos, fosse escapar qualquer coisa de juízo. Fosse
escapar, por entre as veias, as palavras que se amontoam dentro dele. É que
todo esse desespero, essa falta de ar pelo soco, são as palavras se contorcendo
descontroladamente urgentemente sem qualquer coisa que as impeça sem qualquer
sentido apenas com a necessidade de serem vistas e sentidas em toda a sua
estância tamanho alongamento destreza sutileza canalhice confusão em que elas
estão saindo.
E, quando elas saem dá
nisso. Boa noite.
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