28.11.11

Verborragia


É um vazio. Uma coisa em branco. As perguntas se misturam na cabeça como uma convulsão sem fim. Parecem cores que vão se sobressaindo até dar a cor nenhuma. As frases vão passando em uma velocidade que não deixam nem vestígio, nem uma referência aparece para uma conversa inteligente. Porque é inteligente mostrar referências, não é? Soa como um diferencial. Meus dedos estão tremendo ao digitar, letra por letra, esse texto. Tremem como se eu precisasse me livrar de algo tão incessante e grande que até erro a montagem das sílabas. Erro visivelmente. Esse barulho ensurdecedor avança na minha cabeça como uma praga. Parece até que vou explodir por não construir uma frase que seja. Baixar o volume já não é possível. Gritar já não é possível. Iria gritar tão alto que pareceria até clichê. E o meu maior medo é cair na mesmice, na banalidade de um dia a dia. Existe algo mais clichê do que o medo de cair no clichê? Do que esse discursinho barato de uma diferenciação que é tão igual quanto à simplicidade de ser? Preciso me desfazer dessa agonia, esse barulho, esse tremor. Parcele em ate 18 vezes. É pensando em você que fazemos os nossos produtos. Será que ela não percebe que os meus dedos tremem e o barulho que faço ao digitar as letras nesta tela em branco quer ser bem maior do que a tranquilidade em que ela assiste a Tv? Ela assiste como se nada estivesse acontecendo aqui, como se essa angustia não fosse tomar a casa inteira no próximo instante. E vai. Eu tenho certeza que vai invadir todas as paredes e vai nos engolir como os dias que passam, sem que ninguém perceba. No mais absoluto silêncio. Ela não percebe que minha cabeça vai explodir em frases que têm dentes e que me mordem por vários e vários dias. Frases não, letras imensas, pesadas. Ela não percebe que a minha dor é muito maior do que se possa imaginar. E ela fala comigo como se nada, nada, nada estivesse acontecendo. E tá, meu deus. É claro que está. Ela não está vendo que estou afundando? Ela não está vendo que saltam dos meus olhos as letras que não conseguiram sair? Só eu consigo. Só eu. Porque a minha dor é maior do que todas e o meu egocentrismo também. Porque eu posso ser egocêntrica. Eu posso ser o que quiser. Amanhã não tem mesmo aquilo que chamam de dia e eu vou morrer hoje. É estranho escrever isso. Acho que nunca havia escrito na minha vida. Dá um medo, faz os olhos se esbugalharem. Não, eu não vou morrer hoje. É só uma verborragia absurda que vem da minha cabeça e salta para os meus dedos. É só uma tentativa de fazer referências e de se livrar dessa coisa que anda esmagando todas as minhas entranhas. É uma tentava absurda de tentar respirar qualquer coisa que seja. É uma tentativa. Absurda, banal, de merda. Eu queria ser artista. Queria subir no palco e me transformar em qualquer coisa que fosse. Queria viver e reviver todos os traumas e questionamentos humanos e me livrar deles depois de uma hora de espetáculo. Mas não, eles ficam entranhados em mim por uma semana. Eu assisti e vim para casa com essa necessidade mais do que orgânica de despejar a minha plateia. Essas tantas que ficam se empurrando entre as perguntas que, volta e meia, retornam. Porque elas sempre retornam. Nas mais inusitadas horas elas estão me espancando. É um soco ainda. Descobri, é um soco. Essa porrada que me deram ainda faz com que a minha cabeça rode, rode e não encontre eixo nenhum. Se abstraia dentro de um universo que nem é familiar. Nada é familiar. Eu respiro fundo e treino todas as técnicas de sobrevivência pra sair desse redemoinho e acalmar meus dedos. Mas não funciona. Nada funciona  nada. Nada serve. Nada. Nem os pontos aqui se encaixam, nem as letras servem e estão no seu devido lugar. Escrevo tudo errado e quando volto para acompanhar a leitura, nada está compreensível. É como aquele vazio que se instalou em mim e como se surgisse, agora, a cor do nada. Nem um texto decorado. Nem uma passagem lembrada. Só lembro daquela parte em que ele bota a mão na cabeça como se pelos orifícios que ainda estão abertos, fosse escapar qualquer coisa de juízo. Fosse escapar, por entre as veias, as palavras que se amontoam dentro dele. É que todo esse desespero, essa falta de ar pelo soco, são as palavras se contorcendo descontroladamente urgentemente sem qualquer coisa que as impeça sem qualquer sentido apenas com a necessidade de serem vistas e sentidas em toda a sua estância tamanho alongamento destreza sutileza canalhice confusão em que elas estão saindo.


E, quando elas saem dá nisso. Boa noite.

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