20.12.07

Já se passavam das quatro da manhã, ela não estava no seu estado normal. A mistura de bebidas fez um efeito estrondoso, fazia tempo que não se encontrava naquele estado. Os dedos com as unhas pintadas de vermelho carmim carregavam um cigarro aceso – seu melhor amigo em dias como aquele. Andava de um lado para o outro com os pés no scarpin, o sapato lhe dava um ar de segurança, tinha saído com a roupa mais bonita do armário, demorou horas em busca do cabelo perfeito, maquiagem elegante. Ganhou alguns sorrisos interessados, drinks inusitados, propostas para o fim-de-semana, ela estava bonita.
Beijou um, jurou fidelidade a outro, marcou um jantar com um terceiro. O importante era manter-se ocupada para não lembrar o sorriso mais lindo que existia no mundo, o som da voz mais gostosa que já tinha ouvido.
Fazia seu corpo entrar em movimento para não acalmar e sentir o jeito louco que ele a pegava e como se referia a ela: minha - sempre o pronome possessivo no início de qualquer outro adjetivo ou frase que viesse a construir. Era verdade, ela seria sempre dele. Aquela sede de tê-la perto do corpo, as coisas lindas que ele dizia a um milímetro da boca dela, que fazia com que ela perdesse o controle e o beijasse intensamente, achando-se nele.
Ele, ele, ele.
Andava, sorria, bebia, fumava, interpretava mil personagens só para livrar-se da mulher que sentia falta da pessoa que lhe fazia amar sem medo, entregar-se de corpo e alma sem lembrar que o abismo era do lado direito. Ora era uma mulher independente, cheia de si e muito ocupada, evitava compromissos sérios. Ora era uma mulher que fazia cinema,em busca de diversão descontrolada,sexo puro. As duas convergiam: o par era errado.
Nada naquela noite fazia sentido, muito menos aquela criatura inventada.
Pegou a bolsa, chamou um táxi e só conseguiu se lembrar do endereço dele.
Bateu na porta - eram seis horas da manhã, sua maquiagem estava meio borrada, não tinha mais o glamuor da noite passada, era ela na sua forma mais simples - e apenas disse: eu só quero escutar o som alegre do teu riso.
Ele sorriu. Ela transbordando de amor, foi ver o dia amanhecer.
Era ele, só ele.

5 comentários:

Anônimo disse...

Ahm..não não.. Eu sei quem eu sou e sei também quem não sou.. Usando um trecho do seu texto, acho que a explicação do meu post seria mais ou menos essa:
"[...] fazia com que ela perdesse o controle e o beijasse intensamente, achando-se nele.
Ele, ele, ele. "

Ééé isso.. ou Quaaaaase isso.[haahahhahaha...]
Quando o coração fala alto, não conseguimos ouvir a razão..
O problema todo é que Ele não sabe quem sou, tem apenas uma idéia... haha é complicado...
Em todo caso...

Gostei demais do texto
beijos

[feliz natal]
=)

Anônimo disse...

Clara, posso falar?
Me identifiquei. Do começo ao fim.

Como consegue isso?
Esse seu texto tem gsto de quero mais.


Beijos, querida.

Aryana Penno disse...

Muito lindo o texto garota!

Você realmente escreve bem!
Adorei o blog, vou passar pro aqui mais vezes,virei visitante assídua!
Vou te linkar, ok?
Beijoos
E um feliz e próspero Ano Novo!

j. disse...

a gente usa carapaça às vezes.

gostei do blog :)

Anônimo disse...

É sempre alguém, mesmo que o alguém não abra a porta às seis da manhã, mesmo que chova ou haja barulho de trovão.
Isso lembrou um conto do Caio Fernando, um dos preferidos, "Além do Ponto":

"...nem tentar outra coisa, outra ação, outro gesto além de continuar batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, na mesma porta que não abre nunca."