4.2.08

Ele sentado na poltona nove do avião rumo à Cuba, leu a carta que ela lhe entregou na noite passada de carnaval.

Querido, querido, querido!

Traduzi todo o meu sentir imediato nessas linhas, sabes que não consigo falar contigo, sempre me perco nos teus detalhes. Não sei o porquê dessa carta, não sei o porquê dessa vida e nem sei em que hora do caminho fizemos essa escolha. Desisti também de me perguntar.
Poderia escrever sobre as nossas recaídas, o nosso beijo, as nossas mãos entrelaçadas e o quanto isso vai ficar guardado aqui em mim. Poderia te desejar uma boa viagem e só. Poderia tanto, queria tanto.
Mas a única coisa que agora posso gritar em alto e bom som é que um vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é carnaval não iria resolver o nosso problema e muito menos matar a nossa vontade. Talvez nós nos beijássemos e fóssemos felizes por algumas horas, relembraríamos os nossos anos em minutos e aquilo iria encher o nosso peito de esperança, mais uma vez repetiríamos o "agora vai dar certo". Entende de uma vez por todas: o nosso amor não é um carnaval.
Por mais que eu queira, não posso negar que você é a minha dose de morfina. Em doses pequenas, mas suficiente. Sempre soube do teu pouco amor, fiz coleção das tuas palavras - depois de um álbum incompleto, poderia dar e vender as figurinhas repetidas. Engraçado o teu discurso comprado de "se é pra ser, vamos ser direito. Nada pela metade!" acho que ficavas decorando isso no espelho logo após levantar pra se convencer de que era realmente verdade. E sabe porque, mesmo sendo totalmente contrária a você, sempre me mantive ao teu lado? Morfina. Contigo eu não sangrava por dentro e por fora ao mesmo tempo, as dores eram menores. Eu sei que fui covarde, todo o mundo me jogou isso na cara, no entanto, como sempre te disse, quem determina o tempo é a gente, foi exatamente naquela segunda-feira que me levantei e disse: chega de você, te joguei no canto do armário e sem pressa pra arrumar.
A culpa de tudo isso não foi tua, fizesse o que era programado, nunca fui dormir sem uma notícia tua ou algo parecido. Tudo exatamente programado. Cansei.
Me apavora o tempo que perdi esperando que corresses ao meu alcance quando saía sem explicação e acredite, não era orgulho feminino, era só pra ver que tu se importavas de verdade comigo. E quando olhei pra trás e vi os dias que passei chorando por você, entro em pânico pois não tenho história alguma pra contar dos meus dias. Cansei de esperar o teu tempo, a tua mudança, cansei de me drogar de você.
Eu sou livre e amores nem sempre são possíveis.

No mais, meu amor, a tua presença irá latejar por aqui, sempre. Serás a minha certeza de preciso viver mais e mais e mais e maaais. Deixei meu sorriso na sua mala, fiz um daqueles truques mágicos bem amadores que me ensinasse, usa sempre que precisar.

Agora me deixa ir.

A tua eterna menina.

Ele guardou a carta. Usou o sorriso dela nos dias frios para aquecê-lo.
Ela? Estava nas ladeiras de Olinda de mãos dadas com a vida.

acho que a chuva ajuda a gente a se ver.
venha, veja, deixa,beija, seja o que Deus quiser.

13 comentários:

Anônimo disse...

Acho que se eu tivesse escrito essa carta, ela não seria tão adequada ao meu momento. Sinto-me exatamente como a moça do texto: viciada em algo que no início é bom, mas depois faz muito mal.
Só não tive coragem ainda de abandoná-lo e de "carnavalear" pela vida.
...

Beijos.

Anônimo disse...

Menina Clara, usei algumas palavras do seu texto (não do mesmo jeito e não no mesmo contexto) em um texto meu. Mas não citei que li aqui, porque, enfim, são duas ou três palavras.
Mas se você se sentir incomodada, me avisa que eu coloco lá que são suas, tá?

Beijos.

Filipe Garcia disse...

Bonito, poético, cheio de ternura, melancólico, chuvoso (é o tipo de texto que inunda a alma da gente). Muito bom, parabéns!!

M. [doc] B. disse...

Que lindas palavras de amor ela proferiu para ele.
Senti-me dentro do texto por alguns instantes. ótimo, ótimo!
(:

Anônimo disse...

"Me apavora o tempo que perdi esperando que corresses ao meu alcance quando saía sem explicação e acredite, não era orgulho feminino, era só pra ver que tu se importavas de verdade comigo."

Ai ai.. Parece que escrevi essa carta, só que ainda não entreguei..
Só queria saber se isso tudo vale a pena, esse tempo perdido, a espera e a esperança acompanhada de longos suspiros.
... ai..ai...


Mas mas mas.. só posso dizer que adorei o seu texto. Linda carta.

beijos

Sacha!! disse...

Clara menina,

mais uma vez li um texto adorável aqui no seu blog. É um texto, carta, muito sensível, trata de uma questão difícil pela simplicidade com que se apresenta. E você expôs dessa forma, algo difícil de se escrever com tanta simplicidade.
Li sua crítica sobre meu texto. E replico: não que justifique a falta de profissionalismo de alguns professores da rede pública, mas qual é o estímulo que eles têm para dar a mesma aula que dão numa escola particular? Não é por aí que vamos resolver, só quis polemizar seu comentário. Outra coisa, quem faz o governo somos nós, concordo. Com que voto? Com que educação? Se nossos votos são todos comprados e não sabemos em quem votamos a dois anos atrás? Se nossa educação não passa do ensino primário e muitas vezes se abstem antes disso?

A terceira parte vem aí e não sei porque, mas tenho a impressão que você vai gostar mais do que as outras.

Até mais,

Sacha!!

Miss Joo disse...

Olá!
Andamos a fazer visitas e a comentar os que achamos interessantes. Caso do teu.
Passaremos a espreitar por cá e se nos quiseres visitar estás convidada.
Até breve!

Anônimo disse...

Tem um selo pra você lá no meu blog.

Beijos.

Fernanda Papandrea disse...

Lindo!
é incrível como algo assim sempre acontece,a gente se vicia tanto no gosto de alguém que não consegue sair,mas precisa.

Seu blog é delicadíssimo =)

gostei muito e te colocarei nos meus links

beeijos

Camila disse...

Muito lindo isso aqui...

... a foto é sua?

beijos daqui...

Thaís Salomão disse...

se eu disser que tou entendendo 1¢ disso tudo, é mentira.
but anyway, amores nem sempre são possíveis.
é isso aí..algum dia a gente acha um que seja possível.
assim espero :D

Unknown disse...

Ainda não sei se foi um texto triste ou engraçado, esperançoso ou melancólico. Talvez isso tenha dado todo esse charme especial. Além de bem escrito, me deixou aqui refletindo...

Renato Ziggy disse...

Clara, você foi divinamente linda em cada palavra, detalhe, figura de linguagem. Quanta sensibilidade, delicadeza, melancolia e ternura em um único texto. Se esta carta fosse pra mim, acredite, eu teria me livrado de todas aquelas bobices de que homem não chora, chorar na frente dos outros é pagar mico... teria chorado horrores ao ler uma carta tão linda e ao mesmo tempo triste. Obra prima esse teu texto! Amei demais...