19.5.08

inspiração sem comando, uma espécie híbrida de harmonia e desespero

Era uma vez um menino e uma menina. Mas não qualquer menino ou qualquer menina, tinham artigos mais do que definidos. Ele era O menino azulado dela e ela era A menina linda dele, mas esse fato só foi descoberto depois.
Um dia daqueles em que não se espera revolução, o chamado “comum”, a estrada desses meninos se cruzaram. Eles não se bateram, ela não derramou papéis e ele os recolheu (seria até plausível admitir essa hipótese, no entanto, o tal do menino os derrubaria novamente) nada de clichês. Foi o sonho! O menino tinha a mesma sede da menina. Ela, tentando ser doutora, percebeu logo o pulsar das veias incessantes do menino, elas queriam vida. Ele se encantou com a moça, parecia meio ilógico, como pode uma pessoa se parecer tanto com ele? Eles foram se descobrindo paulatinamente. Conheceram, juntos, o conceito da palavra afinidade. De uma menina que ele encontrou outro dia para inha ela foi promovida e ele mudou de cargo: saiu de um menino misterioso para inho. Ensinou a ela a olhar para o céu todas as manhãs; ela incorporou ao vocabulário dele suas gírias. Foram assim caminhando, nem sabiam aonde chegariam. Nos primeiros meses, eram apenas pessoas que se encontravam, colocavam o papo em dia, trocavam sorrisos e pronto, cada um volta pra sua casa, sozinho. Depois, a tal da saudade começou a acompanhá-los na volta. A falta do outro irritava a pele, agoniava, era preciso qualquer palavrinha de alegria ou aquele gostinho bom que ficava quando os dois apenas se olhavam. [eles eram apenas amigos, juravam]. Os encontros passaram a ser diários, um dia pensaram em ser vizinhos, depois chegou-se a um acordo: morar junto numa casa master, pintar as paredes de amor e criar um cachorro.

[Eu, você e qualquer outra pessoa entenderia até essa linha que os meninos estavam apaixonados. Mas esse menino era misterioso demais, nem dizia e nem desdizia, apenas “curtia” (tinha medo de nomear o querer) e ela tinha pavor de se perder nele. Era amor demais.]


Em uma tarde ensolarada, típica de verão, o menino chegou animado mostrando um retrato de uma lagoa. Tinha um barco pequeno e simples, mas capaz de pôr luz nos olhos da menina. Ele a pegou pela mão e foram até lá. Perderam, ou melhor, acharam o rumo: olhar nos olhos um do outro foi suficiente. Era o início da revolução. Se traduziram em beijos.
Daí para frente, sabes bem o desenrolar da trama. Venceram algumas brigas, perderam outras, fizeram ora declarações de amor silenciosas ora gritaram ao vento. Escreveram versos, confirmaram um simples querer composto. Se amaram. Separaram-se, ela jurou esquecê-lo e ele só a queria. Voltaram de mãos coladas, literalmente. Encontraram rumos diferentes e voltaram correndo porque a saudade imobilizava as pernas. Entre mortos e feridos, sobraram os dois. Os dois, sempre os dois.
Eles eram um par, uma dupla perfeita e estrategicamente bem elaborada. De inha, ela passou para pequena, coisa mais linda do mundo, amor ou qualquer coisa que chegasse a cabeça dele. Ele? Ah! Ele era o azul dela, o amor, o pequeno.
Passaram por dificuldades, brigaram por bobagens e esperavam ansiosamente a hora de fazer as pazes, esquecer do mundo e se amar, se amar, se amar. Era bonito de se ver, eles exalavam amor pelos poros. Bastava um sorriso dele e o mundo dela virava aquarela. Ele queria casar, ter 3 filhos e viajar pelo mundo. Inspiravam, suspiravam e viravam poema.
Mas os caminhos deixaram de se cruzar, talvez ele seguisse à direita e ela à esquerda, ninguém sabe.No entanto,ele ainda faz parte da pele dela, do corpo dela, da alma.
Só que não há retorno, não existem direitas que esbarrem no trajeto percorrido por ele. Então, ela, de longe, saiu correndo e escreveu no primeiro muro:

“meu céu azul, segue em frente! Corre, voa! Um dia os nossos caminhos se [re]encontram. Leva o meu amor contigo para quando sentir frio e o meu, que é tão teu, sorriso para os tristes. “


Deixou um beijo só deles por lá e continuou com o passo rápido, na chuva, tentando encontrar a saída do semi-labirinto.


E ele foi ser feliz, como prometido.

26 comentários:

Aline Romero disse...

Que amor bonito... Li num blog hoje mesmo que existem amores assim... Que terminam sem terminar... Nesses meninos, por exemplo, esse amor será eterno, não importa que outros caminhos eles tracem daqui pra frente. Serão parte um do outro. irreversivelmente, como todas as grandes paixões.
Que bom que voltou a postar!
:)
Abraços!

Anônimo disse...

o pequeno,ansioso,a flor da pele,latejando,espera ver logo a borboleta de volta no céu.acenando com as mãos livres,e aquele sorriso imenso tomando conta de tudo.
ele mais que ninguém sabe que labirintos não são palho p ela,não p aquela menina de mão tensas e com uma vontade imensa de fazer da vida uma roda de samba.
pinta por aí,vai!
cores,cores(!),foi a primeira palavra que veio ao menino quando escreveu o primeiro verso p ela;

(...)
sabor nas cores vistas,
pintadas meio a mãos tensas
capazes de agarrar a Terra,
sujar-se com ela
e sorrir.


-reticências do pé a cabeça.

Camilinha disse...

... eu espero que ele seja muito feliz...

beijos daqui...

Clara Mazini disse...

Gosto de promessas assim, e fiquei feliz lendo isso tudo, que é muito, é transbordante...

leila saads disse...

Difícil é assumir que a separação é inevitável, que os caminhos já não se cruzam mais...

Me lembrou "Eduardo e Mônica" do Legião. Com suas peculiaridades, claro, Clara!


Beijos!

Anônimo disse...

O texto mais bonito que li, me tocou.
O destino os uniu, a esquina os separou.
Amor, amar, sentir, recordar.
É bom quando é assim, sublime.

Beijos!

Patrícia disse...

Que texto lindo!
Doloroso pela separação e reconfortante pelo amor...
Separação é sempre muito dificil!
Mas ele foi ser feliz, como prometido!
Beijos

Camila disse...

AAAA VOLTEI SENHORITA

assumo que não deu pra eu ler todinho o seu texto mas pelas partes que eu li foi muito lindooo
xD

beijoo

Anônimo disse...

Pode até fazer parte, só não pode impedí-la de viver...

Beijocas.

Francine Esqueda disse...

Boa Noite! Adorei descobrir seu blog!
O visual é diferente e agradável! interessante... Parabéns por construir um espaço tão legal! Continue assim!
Voltarei mais vezes!
Abraços

O Profeta disse...

Solta nota de uma flauta
Um retrato preso à mão
Um tambor fora do compasso
Segue o bater de coração


Convido-te a partilhar as emoções
Deixadas pelos ponteiros de um relógio…


Boa semana


Mágico beijo

Melissa disse...

Senti que ele virará a esquina e retornará mais adiante...e feliz, mto feliz!

=*

Bárbara M.P. disse...

Olá menina,

Uma graça essa fábula moderna. Tenho um texto - Meninos, castelos e inocência - com algumas nuances disso que escreveu, em alguns pontos são quase irmãos...
Leia, quando tiver um tempinho.

Bom final de semana,
Bárbara M.P.

Araúja Kodomo disse...

Que coisa linda...
Adorei ***

Unknown disse...

Concordo com a Leila, bem "Eduardo e Mônica". haha. =)

Narradora disse...

Lindo o seu texto, a construção dele e do seu amor...
bjs

Nando Damázio disse...

Ah, é ficção, mas na vida acontece tanto isso, sei bem como é ..
A sensação de ter sem nunca ter tido, ou de perder sem nunca ter ganhado, sei lá, quando aquilo que a gente acreditava se vai, fica somente um vazio ..
Até ser preenchido por outras convicções !!
Adorei o conto !!

Filipe Garcia disse...

E quem nunca viveu um caso desses?!

Tomara que os caminhos deles se encontrem novamente. Mas se isso não acontecer... paciência, a roda do mundo gira!


Beijo.

Juliana Almirante disse...

Eu sei um tanto o que é...

Sacha!! disse...

Gostei muito. Adorei, pronto!

Sacha!!

Leandro Luz disse...

Belissimo texto !!!

Parabéns... adorei...

Linkei vc ao meu blog, ok ?

Beijos

Dayane Carmona Poeta disse...

Que lindo isso, acho que pra mim essa historia fez um total sentido e por lembrar uma coisa que eu passei fez lágrimas rolarem pelo meu rosto. Mesmo quando acaba o amor continua lindo. Adoravél. :*

Anônimo disse...

Azul, azul, azul... tem certeza que você quis fugir do clichê???
Ah, tá! Obrigado.
Realmente é coragem... postar "isso" realmente é coragem...
Tipo, olha que inédito : "E esse amor é azul como o mar... AZUUUL"
Vão pra esquerda... vão pra direita.. Vem cá, vocês não tem direção? "Todo mundo pro lado de láaa... todo mundo pro lado de cáaa". Pessoas vulneráveis, não?
Cuidado! De tanto azul, vai acabar ficando ROXO...
Mais nada a declarar, a não ser:
Inha, inha, inha... pobre menina aROXINHA!!!
No mais, beijos,me-e-e-e-e-edo!!!!!!

Anônimo disse...

Para não dizer que não fiquei no anonimato:
Prazer, O Homem com Flor na Boca!
Beijos,angústia!

Camila Vivas disse...

Céus...
Faz algum tempo que não leio algo desse tipo.
As suas palavras me penetraram como verdades explícitas; verdades vívidas e vividas.

Muito bom mesmo.

Inclusive, te peço permissão pra usar trechos do seu texto e fazer algumas adaptações para poder usá-lo (pra uma boa causa). Garanto que vou colocar os seus créditos.

Obrigada, desde já, por me proporcionar a leitura de algo tão cândido e penetrante.

O Homem com Flor na Boca disse...

Vamos lamber o mau gosto!!
Isso mesmo guria, se for usar algum trecho, por favor, altere, POR FAVOR!!!
Cuidado com o "penetrante"...
Beijos,duplosentido!