7.6.08

An old question of love

Ei você,

Eu fiquei aqui pensando no que te escrever. Na verdade, não é bem pra você, é pra mim. É pra sair um pouco do que tá preso aqui dentro, essas letras contidas em um copo que transborda pelos lados. Tou tentando arranjá-las em sílabas corretas, reorganizar o desorganizado. Talvez nem precisasse tentar traduzir isso, dói ainda, sabe? Aliás, dói demais. Sufoca. Não é aquele sufocamento que eu tinha te descrito há um tempo atrás. Existe uma diferença, aprendi. O de antes, era algo querendo sair, explodir. O de hoje, é o ar se esvaindo, se perdendo, agonizando. Mas você não tem absolutamente nada a ver com isso, não é mesmo? Só queres abrir essa porta e ir logo embora para o teu mundo. Eu acho que perdi o endereço da tua casa porque sempre chego uma rua antes ou na avenida posterior. Confesso que só aprendi as referências: a cafeteria perto, o banco do lado, a praça bonita, você nunca achou importante o fato de eu saber ou não chegar a sua casa, a sua cama. Me explica o que você acha importante quando a gente se encontrar um dia e der um tchauzinho meio de longe, com um sorriso aguado,por favor. Dois segundos, é tudo o que eu peço pra você. Apenas esses segundos para me explicar claramente o motivo de você ter me encontrado, ter alimentado a coisa mais bonita que já existiu em mim, me explicar o tempo. Conta, ou pelo menos inventa algo menos tosco do que as tuas mentiras diárias, o porquê você me escolheu, se é que isso foi uma escolha. Você sente falta de mim? E se por acaso sente, como é que passa com essa tua ausência, me ensina a fórmula? Me diz como amar de menos, sentir pouco e fazer outro acreditar na “intensidade” das frases.
Fico aqui pensando no teu rosto, me recrimino por deixar qualquer tipo de lembrança me invadir. Mas parece perseguição: as ruas ganharam o teu nome, as pessoas se multiplicaram, alguém coloca cartazes mostrando o quanto o meu peito aperta quando me vem algo seu. E eu não tou escrevendo nada disso para me lamentar, nem para te chamar de egoísta ou qualquer coisa do tipo. Não te quero mais. Eu vou engolir cada querer reprimido, você sabe. Por mais que minha alma trema toda vez que telefone toca e eu viva em constante alerta por sua causa, acreditando que tudo é ilusão e que você está me esperando na próxima esquina. Eu não vou ceder. Além do mais, você rasgou o seu texto, enterrou o seu personagem no meu palco, deu fim à peça. Ai, meu amor, por onde será que anda a nossa poesia silenciosa?
Cansei de dançar música lenta sozinha, talvez eu precise mesmo é de uma bossa. Algo para abrir os meus poros e solidificar as paredes. Te odeio por te amar demais, por te querer demais, por sair assim sem pedir licença e levar contigo as minhas certezas. Morro de raiva de você e, ao mesmo tempo, de amor. Morro de manhã e renasço à tarde.
Não quero mais, quero mais.

Agora,eu posso ir.

20 comentários:

Thaís Salomão disse...

o mais bonito,
o mais sincero,
o mais 'certo',
o mais verdadeiro..

como eu tenho orgulho de ser sua amiga!

Flávia Ruas disse...

Muito bonita essa carta. E ainda me impressiona o fato de que, apesar dos amores serem todos distintos uns dos outros, eles se parecerem em tantos aspectos. Assim como o sentimento de quando ele se acaba. Que é triste, mas passa.
Beeijo

Mafê Probst disse...

Desamor sempre passa. Tarda, mas passa...
Acho impressionante a beleza que se esconde por trás da tristeza...


Um beijo doce.

Aline Romero disse...

A tristeza pode se tornar linda em mãos talentosas como as suas.
Abraço!

leila saads disse...

Quanto mais a gente foge, mais o objeto da fuga nos persegue... Até que um dia, inexplicavelmente, ele desaparece e dá lugar a um outro alguém, de quem você não precisa fugir...

Beijos!

André disse...

fantásticaásticaástica! te encontrei por aí, naturalmente, assim como as coisas tem de ser..natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
Por onde andas? Nunca te vi por aí..
Irradiante!
Beijo!

Anônimo disse...

É bonito o desabafo, e é sempre bom desabafar.
"E se por acaso sente, como é que passa com essa tua ausência, me ensina a fórmula? Me diz como amar de menos, sentir pouco e fazer outro acreditar na “intensidade” das frases." Por que você quer aprender a não ser e viver completamente? A gente aprende com as pessoas o que elas têm de bom. No que elas têm de ruim, a gente tenta ser melhor. Segue a vida, sabendo que, da próxima vez em que o amor te encontrar e o vento sussurrar nos seus ouvidos a poesia silenciosa do coração, você se entregará inteiramente, sem medo, sem ressalva, porque é só assim que vale a pena...

Beijos.

Guilherme Lessa Bica disse...

Olá.

Encontrei teu blog, através do da Bi RIeth; mto bom.. Vou passar mais vezes por aqui.

Abraços

Fabio
www.tisserand.blogspot.com

Sunflower disse...

essas gentes que usam nossas palavras como escadas para subir até o coração e a cabeça, podem se utilizar delas pra pegar a estrada, né?

Keidy Lee disse...

Lindo, lindo demais.

Filipe Garcia disse...

Oi Clara,

tão bonito tudo isso, essa intensidade de emoções, essa variação ininteligível de sentimentos, esse desabafo sincero, carregado de palavras bonitas e aladas.

"por onde será que anda a nossa poesia silenciosa?" Quem sabe a resposta? A poesia anda por aí... também ando à procura da minha.

Um beijo.

Anônimo disse...

" Não quero mais, quero mais. "

Deseje mais, sempre mais...


beijos
boa semana

Carol disse...

A gente se surpreende qdo lê algum texto que é a nossa cara. É tudo que queremos falar, mas faltam palavras... no meu caso falta um pouco de coragem tb.

Bjs

Anônimo disse...

nossa, esse foi tão certeiro que doeu por aqui. eu não conseguiria expressar tão bem neeem com a batatinha. ^^

Leandro Luz disse...

muito bom...

André disse...

Passei aqui na espera de quem sabe algo escrito para o dia dos namorados, quem sabe pontos de vista sócio político artístico filosófico existenciais em comum..quem sabe? quem sabe? Nunca se sabe, sempre se espera..na verdade a única coisa que espero agora é poder ver o pôr-do-sol muitas vezes ainda..quem sabe acompanhado, ou não, talvez..that's an old question of love.
De onde é? Espero resposta sua, mesmo sem eu atualizar o meu blog! Me passa seu msn? To sempre online a noite..
Um beijo!

Anônimo disse...

eita desabafo..rs

beijossssssssssssssssssss

Camilinha disse...

eita... fala assim não, menina. que o amor é beija-flor e ele se espanta facilmente...
é sofrido, eu sei, esse amor que empena. mas, garanto-te, é tão sofrido para o outro também. não é que não haja amor, é que ele canta baixinho para não espantar as borboletas, é sino sonolento da igreja as 6 da manhã... mas ele existe sim...

beijos daqui...

Aline Romero disse...

Ei...Selinho pra voce no meu blog, escritora Clara!
Beijo!

Narradora disse...

Texto triste e belo.
"Morro de manhã e renasço à tarde."
E a gente sempre renasce...
Bjs