19.6.08

Tomie Ohtake


É porque, às vezes, a gente tenta colocar pra fora alguma coisa e não consegue. Essas mesmas coisas se prendem ao pulmão, impossibilitando as trocas com o meio. Não há um fluir contínuo, uma difusão rápida e tranqüila. Mas, calma, dispenso oxigênio, agradeço até. Entenda: é coisa demais, é o amontoar delas. Tantas revoluções eclodindo, mas sem nenhuma mudança sócio-político-econômica. Nenhuma manifestação concreta sobre o repensar da mente. Um total desencadeamento, desperdício de energia.
Poderia descrever a cena do casal da frente (Mó Déo, ela não percebe que ele é gay? E porque Aline não assume logo essa paixão?), poderia falar sobre um amor mal amado, prestes a falecer. Escreveria até sobre descobertas, no entanto, nada completa a falta. Esse desenrolar constante, as tais coisas me deixam tonta. Sabe o que é? Deixa eu te contar, agora que as luzes se apagaram eu posso descansar os ombros, tirar o salto e deixar as justificativas na gaveta. Se você soubesse o quanto o escuro está me confortando estranharia. Pensando bem, você estranharia quase todas as coisas, principalmente a minha subjetividade, estou engolindo os fatos, meu bem, para que não te assustes. Apenas podes saber do medo. Isso, medo. Palavra estranha no meu dicionário, não é mesmo?


Pois bem, querido, hoje me resumo a um único querer: entrar no compasso exato, fugir desse samba desalinhado.

14 comentários:

André disse...

Quanto mais a gente pensa em colocar as coisas pra fora, mais elas crescem pra dentro. E realmente, quando se engole coisas assim, é como se tivesse descido pelo lado errado ou travado no meio do caminho, fica algo. Já as revoluções, repensamentos, manifestações, há tempos sinto falta disso tudo, se é que um dia isso existiu..ando guardando minhas idéias revolucionárias e manifestações de pensamento pra mim, pra alguma discussão em rodas, algum conflito interno ou ate não guardando.
E sim, claaaara, te entendo quando você me diz que se sente com os ombros mais leves, descendo do salto e guardando justificativas na gaveta, sinto isso muitas vezes..só não entendo o por que de as luzes se apagarem, ‘the show must go on’.. e não tenha medo clarinha, estamos aqui pra isso, nesse improviso maluco nós passamos do samba ao jazz, agora é inventar e entrar no ritmo, fazer compassos de improviso que se quebram no meio e começam de novo sempre diferentes, não sei se é bom ou ruim, mas ultimamente eu tenho aceitado. Dancemos então, me puxe que eu não sei, mas vou aprendendo.. :)
Beijocas Clara!

Michelle Serrano disse...

pois bem. tua escrita á de mto admirar....
vendo seu blog 'perdido' em outro blog, tive que parar pra elogiar.

Anônimo disse...

Medo é uma palavra que sempre existiu no meu dicionário. Infelizmente...

Beijos.

Bernardo Sampaio disse...

Deve ser o sentimento do mundo isso. Essa coisa que é nada, com uma vontade de ser tudo, e não ser.

Qto ao que escrevi no meu blog,
parei pra pensar, e acho que, no fundo, aquela frase não diz nada.

Até.

Daah O. disse...

O final está simplesmente maravilhoso!
Você escreve muito bem.
Parabéns!

Anônimo disse...

o escuro tbm me conforta. e muiito!

beijos ameiii o post

Fernanda Fronza Fotografia disse...

Você escreve muito bem Clara, :)
adoooro sue cantinho...
Fica na paz fooooofa
Onde moras?
beijao!

Aline Romero disse...

Quando eu estou assim, com coisas demais na cabeça, acabo por colocar no papel tudo o que preciso dizer. É a minha forma de por tudo isso pra fora. Espero que escrever te faça tao bem quanto faz a mim...
Belo texto, Clara!
Parabens

Aline Romero disse...

(A propósito...Não guarda tudo dentro de você não. Põe pra fora. Até esse medo todo. Falar sobre ele...Faz bem)

Narradora disse...

"Deixa eu te contar, agora que as luzes se apagaram eu posso descansar os ombros, tirar o salto e deixar as justificativas na gaveta."

Olha, acho uma alívio deixar de lado as justificativas, me despir da retórica e falar simples, direto. Pra mim isso é ficar nua.
Bjs

Araúja Kodomo disse...

Adoro os teus textos!!!
Lindo ***

Camilinha disse...

é difícil ser a personagem principal desta novela que escrevemos para nós mesmos. porque além de atuarmos, somos diretores, figurinistas, maquiadores, contra-regras... tantos papéis enrolados em tantas funções... e amontoa mesmo.
e, ás vezes, é tão cheio dentro da gente que mina dos olhos essa água transparente e salgada.
mas o peito não deságua. continua cheio.
é assim... ser tão a gente que não sobre espaço para mais nada.
ou ser tão nada que a gente fica perdido lá dentro.

vc é um anjinho...


beijos daqui...

M. [doc] B. disse...

Enquanto o mundo perfaz das mentiras suas verdades vivemos em uma constante pressão. Cabe a nós discenir se queremos fazer parte de um pasto usurpador, ou fazer o diferencial. Não relação ao mundo, mas a sí proprio.
De que adianta se as rosas não falam? Seu perfume e beleza são suficientes para transmitir o que é belo, o que muda;
Não deixe o medo se tornar um sentimento grande e continuo. Ele é uma capa que nos refugia da verdade.

Anônimo disse...

Clara, que palavras fortes e boas de serem lidas. Adoro a meneira livre com que você se expressa!
Parabéns!

Beijos. :}