13.1.09

Para Fernanda, que sabe ser feliz em uma terça à tarde.
Sabe, achei engraçada a tua cara, ontem. Foi possível ler, através dos teus olhos, o desespero, a incompreensão para as minhas linhas dobradas. Um desespero agradável, afinal, eu não deixo de ser um desafio pra você. Mas, tu não és capaz de entender porque eu não sou capaz de explicar tão pausadamente para que tu entendas. Não nasci com manual. É que eu não te ligo porque tenho medo de ocupar o telefone, caso ligues. Eu sei, é insana a idéia, é completamente burra também, mas e daí? Te digo que sou forte, inapaixonável, completamente certa dos meus quereres, tudo mentira. Também sou capaz de gritar, com um sorriso no rosto, que apenas quero momentos rápidos de pura troca de energias, mais uma mentira. "Amores são impossíveis", é assim que eu falo né? Decoro e repito 10 vezes, antes de sair de casa, como se tivesse tentando me lembrar de não esquecer a chave ou trancar bem a porta, aí é só chegar do teu lado, me congelar e repetir o discurso em um tom não tão seco, mas nem tanto irônico. Tá, é mentira. Eu não me congelo quando estou perto de você, pelo contrário, fico mediando as palavras pra não ser exatamente aquilo que me apavora. E nem vem me perguntar por que me apavoro, eu já decidi que falar sobre isso é remexer na ferida mais vermelha que existe em mim, e nós dois sabemos bem que ninguém aqui está preparado pra isso. Pára de me controlar, pára de dizer que eu posso me abrir, que você está aí pra isso – será que eu esqueci de te dizer que não passei na fila celeste pra ser um baú ou uma gaveta qualquer acumulando papéis totalmente desnecessários? Acho que sim. Também devo ter esquecido de comentar da minha dificuldade de ser clara, transparente, não chega aqui pensando que vai ser fácil arrancar de mim meia dúzia de confissões e sair por aí andando, como se eu fosse mais uma amiguinha tua que se embriagou e chorou a noite inteira. Não, meu bem, comigo a coisa gira pra um outro lado – a essa hora da madrugada, eu não sei bem pra qual, mas gira. É tão difícil pra você entender que eu também quero amor? Será que tu não percebes que eu não me enquadro na moldura das pessoas calculistas, premeditadas? Sempre sobra um pouquinho do lado, quando me atrevo a fazer pose. Eu sei, deixa de ficar repetindo, quase jogando na minha cara que tenho atitudes completamente contrárias, não vou negar. Eu sou sim capaz de me fazer de forte, louca, boba, séria, não é a toa que pago caro um curso de teatro, mas é tão boa a minha representação assim? E na hora que eu me deixo levar, esqueço o texto, cai uma lágrima, não conta? O meu silêncio, por falta de palavras, traduz minhas vontades escondidas de rodar o mundo, mas com alguém do lado, seu idiota. É esse advérbio de companhia que ganha um tom tênue entre bege e gelo, cores que não sabes enxergar. Ah! Como em conheces pouco, como acreditas em tudo o que falo! Mas sabe que até perdi a vontade de te manipular? Perdi, de verdade. Cansei desses joguinhos cansativos e sem perspectiva alguma, cansei de sempre ter que me desafiar, me mostrar assim ou daquele jeito. Mas, espera, ainda não cheguei à calmaria, não me vem com essa cara estranha e indecifrável, apenas entende. Ou não entende, sei lá. Eu só quero te dizer que não te amo, mas posso ser capaz disso.

Ela saiu, com um copo de vinho tinto e seco nas mãos e um sorriso no canto da boca,
sem dizer adeus.

10 comentários:

Erica de Paula disse...

Lindo Clara!!

Ah, menina, o dom de encantar mora em vc!!!

Tem postagem nova lá no blog!!

Bjs :)

Asas, sonhos e coração... disse...

E a Fernanda agora está mais feliz ainda...
Mas já é quarta-feira (já passa de meia-noite...rs)

Clara, obrigada por ter entrado na minha vida. Eu bati à sua porta, mas você não só a abriu, como escancarou as janelas.

Bom demais ter pessoas como vc por perto. Sorte a minha! =)

Milhões de bjs e que vc continue sendo assim tão transparente, menina Clara...

Abraão Vitoriano disse...

A madrugada tornou-se curta diante de tanta beleza. A-do-re-i!

André disse...

Qualquer um que entra pela tua janela aberta, sempre volta. as tuas janelas tão sempre abertas, afinal, você precisa de claridade.

Rounds disse...

clara,

seus textos são ótimos, espontâneos e de uma doçura que dar vontade de ler mais e mais vezes.

bj

p.s: o link do on the rocks está estranho, não? (rock. on?)

Anônimo disse...

Bonita, que coisa mais bem feita. É uma janela aberta mesmo!

beijinhos :}

Filipe Garcia disse...

Ah, Clara, que escândalo bonito. Arregalou a alma, alarmou o bairro todo. Romance tem que ser gritado. Porque ninguém entende, mas a gente, quando solta as palavras, passa a senti-las mais perto, mais real.

Seus textos são assim: apalpáveis.

Beijo.

Narradora disse...

Texto bom de ler...
Bjs

Flávia disse...

eu só quero te dizer que não te amo, mas posso ser capaz disso.

Sempre que venho aqui, dou de cara com um texto marcante. E dentro dele, algumas frase me atigem com a rapidez de um tapa, com o poder de um abraço. Como essa aí em cima. Nem sei explicar o que ela fez em mim, mas foi grande e bonito.

Um beijo:)

Anônimo disse...

Tenho que dizer.Adoro suas poesias. Eu juro que se voce nao as tivesse escrito, eu teria! ^^
Faz um tempinho que venho acompanhando esse blog e cada vez mais fico contente quando o leio.
Parabéns.