23.7.09

Ad Infinitum

No auge dos seus 20 e poucos anos, o coração na mão e um meio-fio nos pés. Tentava equilibrar-se entre os carros da cidade grande e os abismos escondidos nas ruas de uma grande cidade. Quase um bêbado, vagando pela madrugada, acompanhado de um vento que trazia saudade. Entre amor e loucura gritou: “viva a poesia velha!” para acompanhar a música de fundo de um bar mais lá no fundo ainda, algo de Cartola. Viva a poesia velha, viva a poesia velha, um sorriso sarcástico, braços abertos para o céu, vivaapoesiavelha, viva. Velha. Poesia. E mais um poesia entre lágrimas. A madrugada costuma a ser traiçoeira com os poetas, insiste em iludi-los com inspiração para, em seguida, derrotá-los com as dúvidas, o desespero de uma frase sem reposta. Viva, viva, viva o que? A mesma velha poesia? Será a era da poesia dos concretos, da urbe, do vai-e-vem transloucado de seres que se dizem pessoas? Será a vez de dar voz a correria? E a poesia, a poesia, essa tal da poesia? Circula entre os carros apressados, buzina para os pedestres alertando-os do sinal vermelhoverdeamarelo? E quando para, quem para?

Ali, ela está ali, dentro dos prédios cheios de ferro e cimento. Olha, olha aqui embaixo do viaduto, aqui, bem aqui no asfalto. Não, esquece isso de fios e redes e tecnologia mega, ultra, esquece, observa as ondas eletromagnéticas, veloz como a luz, dos meus olhos buscando algo de nutritivo nos teus. Viva, viva a nossa nova poesia. Viva essa coisa nova, que nem é tão nova, mas não é a velha. Não se acostumou ao tempo, fez greve do soneto, derrubou as rimas e fez-se livre até do verso livre. Tá aqui, entre os meus dedos a nova poesia, toma, acabou de brotar. 20 e poucos anos, alguns porres e essa filosofia barata de mesa de bar para (re)descobrir-se por dentro do lado de dentro do poema. Ah, sei lá o que eu tou falando, mas é melhor falar do que não fazer nada, como você. É melhor gritar do que morrer engasgado de discursos enterrados, sabia? É melhor ser chamado de louco, viver a loucura, sorrir com a loucura, dormir com ela a ser considerado normal por vocês que nada fazem, nada diz e pouco dorme. E viva, viva, viva a velha nova poesia! Viva isso que se diz poesia!

O sol vai chegando e parece secar suas lamentações, queima e faz brilhar os pontos de interrogação. É um aviso: guarde-os. Ponha-os de volta no peito, salvem-os dos caos urbano cheio de pontos finais devastadores e traga, para a próxima rodada, além das veias do teu corpo, um violão. Iremos cantar qualquer coisa, saudar estrelas que nós não reparamos e voltar a viver de poesiavelhanovapoesia, por entre fios e meio-fios.

Sai do meio da rua, a cidade já acordou faminta. E você não faz parte do progresso.


Quando para o samba, bate palma e pede bis.

7 comentários:

Carla P.S. disse...

Que escrita gostosa, boêmia, transloucada, doida, verdadeira.
Parece um cálice de vinho, com alguns livros na estante e alguma música.
Tim-tim.

Sunflower disse...

Pra esses pontos de interrogações tantos e todos, descobri que "não sei" não é a pior resposta.

beijas linda

*clap*clap* BIS*

meus instantes e momentos disse...

belo texto...
Muito bom teu blog. Gosto daqui.
Maurizio

André disse...

sou eu nas tuas linhas doídas sem resposta

Apaixonado por Conhecimento disse...

Mui interessante...
Gostosíssima escrita!
É vinho e estante de livros...
São interrogações e divagações... Fugidias e lisonjeiras são as respostas... mas doces e cálidas, ainda...
É bom passear por aki...

Jaya Magalhães disse...

Ainda bem que a bossa é sempre nova.

[E eu ouvi Chico, o tempo todo, nessas letras].

Vanessa Leonardi disse...

Ah, Clara, eu vi o André nisso tudo! Tão perto, tão longe, tão dentro.
Guardo tudo isso, num sorriso


beijocas, dona moça

=)

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