25.1.10

Não adianta nem me abandonar

Por que mistérios sempre há de pintar por aí

Pessoas até muito mais vão me amar

Até muito mais difíceis

Que eu pra você...

Esotérico - Milton Nascimento e Ronaldo Bastos






Vai ser assim, nós vamos nos olhar e engolir aquela vontade de ocuparmos o tamanho de um no espaço. Vamos engolir, a goles grandes, todo o impulso de corremos para o braço alheio e virar o mundo de pernas pro ar com um beijo. Você viria, sem freio, na minha direção e meu ar iria ser rarefeito. Eu ia tentar fugir de um lado e me entregaria, sem pensar, do outro. Porque eu rodo, rodo e paro em você. Paro na direção certa dos teus olhos, na certeza absoluta do meu encanto por você.

Por que é tudo culpa dessa coisa que invade a gente, não é? O brilho, como você diz. Umas doses aqui, outras ali e uma desculpa perfeita para todas as nossas escapulidas. Você diz que não é bom com isso de explicar e eu detono meia dúzia de frases orgulhosas, cheias de falsas certezas e saímos como se nada tivesse ocorrido. Eu volto a minha vidinha agitada e você a sua conturbada sessão de amor,depois de nos perdermos nas loucuras de sentir. Eu sinto, sabe? Sinto muito. Sinto tanto te dizer coisas que eu não quero, fazer cara de mulher controlada e sorrir pra você, enquanto a verdade reverbera nos meus olhos pequenos demais para serem compreendidos pela tua falta de experiência. É mais fácil nos perdermos e cumprimentarmos os convidados do que assumir toda essa semente de vulcão instalada nos nossos poros. É mais saudável, entenda.

Sorria, isso, continue. Acene agora e faça essa pose de bom amigo, dedicado. É o preço da loucura, a consequência do instante e as danadas das tantas possibilidades. Eu e você envoltos nessas armadilhas do destino, completamente lambuzados dos tantos personagens que interpretamos ao longo da noite só para contradizer o dia em que você bateu naquela porta e trouxe mais cerveja para brindarmos nós dois. Eu falava, falava e você não entendia metade das minhas entrelinhas histéricas e só focava nas tuas descobertas a cada pedaço meu desvendado, alheio a qualquer sinal extra de aventura.

Agora, enquanto as palavras caem de mim e as lembranças estão indo de volta para casa, vou me virar e acompanhar os convidados. A festa já está quase no fim e eu ainda tenho muito o que te querer. Mas, isso, ah, isso é coisa que a gente inventa.

Até o próximo.


7 comentários:

Carlos Pegurski disse...

Há poucas horas visitei um blogue bacana e comentei que o CFA é o santo padroeiro dos blogues. E falo isso não pela citação aqui à direita, mas pelo ritmo, pela linguagem, pela batida. Pela pegada, pela textura, entende? Eu li pouca coisa dele, alguns contos, mas é formidável e muito característico. Essa urbanidade complexa demasiado relacional.
Gostei muito do teu texto. É gostoso.
Beijos.

Thaís Salomão disse...

eita, esse foi foda.
fazia tempo que tu nao se expressava tanto.gostei!

Marguerita disse...

Lendo o teu texto, lembrei daquela música:
"O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba a gente pensa
Que ele nunca existiu"

Mas, basta querer, não?
;)

Beijos

Jaya Magalhães disse...

É o teu segundo post seguido que vem de encontro ao que tem tocado no meu mp4 nos últimos dias, Clarinha. Essa música de Gil é a coisa mais linda.

E teu texto, mas lindo ainda. Esse grude, esse desapego, essa urgência, essa invenção.

Ah...

'Não adianta nem me abandonar, nem ficar tão apaixonada, que nada'.

Um beijo.

Byers disse...

Oie Ana!

A Sunshine de Verão saiu com o seu poema do dia 18-09-09

=D está no site a edição para download:

www.revistasunshine.com.br

Depois gostaria de saber se tu quer participar na edição de outono?

bjos!

Byers disse...

=/ desculpe!!!

Deve ter sido algum momento 'auto-confiança para não perguntar direito' meu que ocasionou isso...kkk

Eu devo ter chegado a essa conclusão na época do fim do ano que tava uma correria danada e nem me dei conta!

Que vergonha!!!! kkkkk mil perdões viu anjo.Mas eu prometo que agora eu acerto, brigado ae pela compreensão e não ter me xingado! Se quiser, ainda tá em tempo !

:D

Narradora disse...

A VIDA, quando não é minúscula, é uma larápia de certezas, talvez seja esse o preço da loucura.
Beijos