23.7.10


“Liberdade é abrir novos tempos” 

Resolvi criar vergonha na cara e escrever. Parar de sentir esse sufoco, essa coisa estranha se remexendo aqui por dentro. Tenho burlado todos os meus deadlines. Minha vida é o tal do cotidiano proletário: responsabilidades jornalísticas por vários lados e aquela cerveja para acreditar que somos livres. Há um tempo, tenho me limitado a matérias alheias, a pautas nada interessantes e minha letra tem andado feia devido ao uso constante do computador. Parar para escrever, a lápis, é raro.

Por falta de dedicação à escrita, lia sempre. O curto salário de estagiária já vinha reservado para Cultura e Estante Virtual. No entanto, com o aumento do trabalho e o cansaço, deixei a literatura jogada na estante e a cabeça bitolada a releases sem sentido. O medo é ser uma mera jornalista.

É que veja bem, não completa. Escrever para ganhar dinheiro enche o bolso, aprendi [abandonei as ilusões jornalísticas no segundo período da faculdade] e ,com o bolso cheio, me prometi entupir a cabeça de arte. Utópico, sei. O dia-a-dia é traiçoeiro, as regras dos manuais tentam te transformar numa máquina rápida e eficiente, capaz de traduzir um acontecimento em algumas linhas, considerando o fato mais importante aquilo que nada realmente importa. Além do mais,salário que é bom, pouco se vê. E a literatura? E a leveza das palavras? E a poesia? A arte? Os textos cheios de quintas intenções? Na segunda? Na sexta?Quando? Cadê a falta que não completa?

Parece que me acostumei, sabe? Fiquei exigente demais com a escrita e corto tudo, mudo o lugar da frase, escolho a palavra razoável, tudo para dar a noção de um texto claro e coesivo. As ideias não tem tanta liberdade como antes. A rima já não é tão rara, pelo contrário, é preciso ter sempre em mãos a palavra mais simples para o teu tão sonhado leitor. Acostumei? Que seja. Faz parte do que eu escolhi agregar ao meu ser.

Contudo, porém, todavia, literatura, a nossa história recomeça desse ponto. Que seja doce.

8 comentários:

Erica de Paula disse...

É, acho que entendo.

O cansaço as vezes nos impede de transbordar...

Mas nosso laço com a literatura ainda é maior do q tudo!

Bjos em seu coração!

Saudades!

Marguerita disse...

Que seja doce, Clara!
;)

Nao escolhi a mesma profissão mas a pressão do ofício também corta muito do que, às vezes, quero escrever!
Me identifiquei com "e aquela cerveja para acreditar que somos livres."

Toca o baile pq é sexta!

Bjo

Fernanda Pereira Carneiro disse...

vc me traduz
e eu te amo!

...loucos apontamentos disse...

E quem será que sobrevive ao cotidiano, vinha passando pelo mesmo, com uma diferença , nem profissionalmente tinha contato com os textos(afinal em engenharia não se lê tanto algo não técnico). Na minha "ode da volta" se podemos por alguns minutos entitular também fiz uma promessa, não se se será dessas de fim de ano mas me pareceu mais séria do que o normal. "NÃO MAIS PEGAREI NUMA CANETA APENAS PARA ASSINAR DOCUMENTOS." Acho que o que merecemos é algo aproximado de Bem vindos de volta.

FDeunizio disse...

que tudo seja doce, menina clara.

Fernanda Pereira Carneiro disse...

opa, eh um engenheiro ali em cima?
hauhauhahuahu viva as piadas internas, flor! huhuahuauha

Anônimo disse...

Sempre haverá em você a exata medida do possível e uma cerveja por tomar.
Doce sempre é. Você sabe, eu sei.

:*

Narradora disse...

É sempre essa a luta, casar nossas expectativas profissionais com a realidade que se apresenta.
De qualquer forma, em maior ou menor medida, com preço mais ou menos caro, a escolha ainda é nossa.
Beijo.