5.12.11

Gasolinados olhos


Porque você vai chegar como se nada tivesse acontecido. Sentar na areia e falar qualquer bobagem que envolva cerveja e suor. Sem escapatória, você vai me olhar um pouco envergonhado até conseguir achar um foco que se desvencilhe dessa arapuca que armaram para juntar os nossos abraços. Eu vou sorrir. Calma, leve, em silêncio. Enquanto você desdobra as cordas vocais, vou filmando cada um dos teus movimentos para descobrir tuas minúcias nesses dias de verão. Vamos manter um diálogo que não passe das linhas habitáveis do bom entendimento, da boa amizade. A bebida fará efeito junto com o sol que vai brilhar só para aumentar as doses de álcool que serão as desculpas perfeitas para o fim da noite. Você vai continuar falando sobre a vida e suas aventuras espetaculares com isso que chama de amor e eu vou ouvi-las e me perguntar onde me encaixo nas tuas artimanhas. De repente, eu vou achar que nada mais faz sentido. Na décima cerveja, ficaremos cada vez mais amáveis, mais soltos. Vou começar a achar que vai ser neste momento, que chegou a hora de você adentrar na minha vida. Meus sorrisos serão mais incisivos, minhas mãos ficarão trêmulas e meus olhos te perseguirão aflitos, cheios de sede. Mas, você vai sair para encher o copo ou repetir aquilo de que precisa ficar em pé para manter o ritmo e vai se desvencilhando da minha lente. Eu vou continuar ali por causa do sol e continuar sentindo os teus passos irem até onde não dá. Até te observar de longe e congestionar, na minha cabeça, todas as palavras você acabou de repetir. Juntá-las, em desespero, para fazer um poema qualquer que seja fácil e que contenha todas as letras do teu nome, espalhadas em linhas longas para que te dê preguiça. Teu, todo teu, como este. E você vai dormir e eu vou ficar pensando como seria estar, ali, ao teu lado, o tempo todo. Como seria morar nos teus braços, mesmo que por estes dois dias. Enquanto você sonha e não vai querer imaginar o que acontece aqui por dentro, eu vou repetir que você é a minha melhor promessa de um ano novo. E que eu vou estragar tudo, mas, mesmo assim, meus olhos... 

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