Hoje é uma tarde normal como todas as outras, solzinho esperto, suposições para uma noite longa e divertida – quem sabe até uma daquelas em que você vai sair da “seca”? . Tudo soa e se comporta normalmente. Estranho, no mínimo, visto que nada na sua vida se comporta ou soa normalmente. Aí, em um ato pensado (pior que ele é pensado), corres para o lugarzinho onde em letras garrafais lê-se “VOU ME MACHUCAR”, entras, rasga a cortina, cria intimidade com as coisas que mais te atormentam no mundo e pronto, virou festa!
Em algumas horas você já está se afundando em lembranças cujo enterro já deveria ter sido realizado, perguntas que ficaram sem resposta em alguma esquina indevidamente passada. Concluindo: a tarde, outrora ensolarada, levou uma rasteira da nuvenzinha metida à besta. Ai ,como você é idiota! Foi mexer lá pra quê? Tinha que se embriagar com a tal da desconfiança? Tinha que dar o telefone para minhoquinhas incessantes que vão colocar teorias mirabolantes sobre aqueeele dia na sua cabecinha sem juízo algum? E as palavras de significado mil? A gastrite já está gritando aqui, é melhor parar logo. Se tudo está resolvido, qual a finalidade em desresolver? Se já sabe o fim de cór, porque entrar? Sadomasoquismo, definitivamente.
Buscar consolo naquelas frases ridículas: “isso prova que estou viva”? Fazer versos clichês sobre a intensidade que gira em torno das entrelinhas aonde sabe-se lá o sentido? Fingir ser superior a tudo e a todos? Patético. Você é patética.
Medite. Isso, medite. Tente se lembrar das aulas mal idas de relaxamento corporal (qual era mesmo a cor pra pensar?), respire fundo.
Solução: aumentar o ego.
(contexto quase-histórico: você é feia, mal amada e se sente uma idiota).
Liga para aquele velho paquerinha que te promete casa, comida e roupa lavada. Depois de uma hora falando sobre coisas desinteressantes e vários elogios (e uma boa dose de qualquer coisa alcoólica antes do terceiro “você é linda demais” consecutivo) você já está pronta para esquecer o traste, as dúvidas e fechar a porta na cara de todas as lembranças importunas que te rondam - até a próxima visita. Eu sei que é mentira, mas posso acreditar? Posso me enganar? Obrigada.
O assunto, os elogios e a sua paciência acabam. Sair com alguém que enche a tua bola, nas atuais circunstâncias, é só mais um passo para o precipício, já que você também não encontra a resposta de “porque eu não estou com ele?”, ou seja, mais uma ferida exposta.
[ O mundo seria mais colorido se inexistisse a fase do pós-encontro, o terrível e temido “opa” com o travesseiro, a hora em que tudo se vai – maquiagem, ressaca, dor no pé- menos a revolução infinita no seu peito. ]
Você é patética, só deixando mais claro.
Esquece e vai para a cama, teu problema é sono, a falta dele.Vou virar Bela Adormecida à espera do príncipe encantado. Meu Deus, você é desesperadamente patética. Bela Adormecida é uma idiota que deixou a vida passar pela janela por um principezinho sem sexo definido, e daqui a uns minutos você é outra que está perdendo o seu dia em função das mazelas do passado.
Sacode a poeira e coloca o salto mais alto do guarda-roupa, levanta esse nariz e sai. Chora, mas com pose e estilo. Amanhã você volta lá onde não deve e se machuca mais um pouquinho.
17 comentários:
O texto é bem legal. Sobre passados, lembranças, e o que fazer com elas, afinal...
hahaha... o final foi meio masoquista, né?!
Fato é: o objetivo é ser feliz!
e tenho dito!
beijos daqui e boa semana...
Nessas situações eu sempre sigo o protocolo: cinema-cachoeira-teatro-livro-música-dança-amigos.
Ocupar a cabeça, sempre.
:*
As lembranças são coisas presentes, muitas vezes não sabemos o que fazer com elas, ora queremos deixá-las de lado, outrora queremos de volta...
beijos!
Acho importante vivermos a nossa tristeza plena e intensamente. Não adianta esconder o passado em caixinhas, em algum lugar secreto (?) da casa, e fingir que ele não existe. Se ele doeu, é preciso deixar doer e deixar passar. Não podemos simplesmente desrespeitar nossos sentimentos e nossa história. Mas, depois que já passou, ficar remoendo e revivendo o passado, aí, sim, concordo: é masoquismo.
Beijos.
No fundo a gente insiste em espantar a aparente tranquilidade. "Cadê a catarse?" grita o coração! A cabeça pensa, pensa, pensa numa resposta. Nessa hora a gente se arranha, mas depois de dormir tudo finge voltar para o lugar.
Beijos pensativos!
Lembranças muitas vezes machucam né?
Bem, eu as deixo guardadinhas no vão das lembranças... e só as "cutuco" quando necessário. se não tiver necessidade, deixo elas quetinhas. Afinal, é como cutucar onça com vara curta.
é isso aí clara ^^
:***!
Inexplicável (ou seria explixcável?) como meu Lado Avesso muitas vezes se encontra aqui nos seus textos?!
Lembranças que vem e vão como a maré, ora na bonança ora na ressaca ;)
[O mundo seria mais colorido se inexistisse a fase do pós-encontro, o terrível e temido “opa” com o travesseiro, a hora em que tudo se vai – maquiagem, ressaca, dor no pé- menos a revolução infinita no seu peito. ]
Peerfeito, Clara.
Aposto que muitas se identificaram com esse seu texto maravilhoso e transbordante.
Beijos :]
Muito bacana seu texto... Vamos nos desvencilhar do passado, dar um tapa na pantera, mudar de corte,roupas e perfume, e antes de tudo mudar internamente, fazer aquela velha e boa faxina de sempre no ego... como diria Belchior:"No presente a mente, o corpo é diferente,
E o passado é uma roupa que não nos serve mais..."
Muito bacana seu blog... parabéns...
ps* poste no ultimo texto do meu blog, escrito por luciana R. ou seja, eu... adorarei seu comentario por lá... bacio...http://banzooo.blogspot.com
lá vai mais clichès de consolo/conselho, já me diverti com os errados enquanto o certo não chegava, percebi que se continuasse, poderia me distrair com errados e nem notar que o certo passou.
o melhor é ficar sozinha, mas nunca vazia, cheia de si. e para aumentar ego, existem amigas.
quantas vezes já me vi assim... querendo sofrer, presa nesse sentimento...
bjos ;*
nossa, belo texto, muito bom o blog!
Virei fã!
Beijos
Esse tempero masoquista tá meio que no DNA do ser humano. Principalmente do ser humano XX - a gente sabe que não deve, mas vai lá e faz.
Deveria inventar uma fórmula pra dar um up grade na razão cada vez que isso acontecesse, né?
Lindo demais teu blog.
Beijo!
"Aí, em um ato pensado (pior que ele é pensado), corres para o lugarzinho onde em letras garrafais lê-se “VOU ME MACHUCAR”, entras, rasga a cortina, cria intimidade com as coisas que mais te atormentam no mundo e pronto, virou festa!"
amei! =)
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