22.9.08

Querido,
Um dia me dissesses que eu era teu porto seguro. Essa frase poderia soar linda se em outro contexto. Confesso que por tradição feminina - na hora me derreti, qualquer coisa e tudo se resumia a você, a tua boca e as tuas palavras tão clichês. Mas passado o efeito hormonal do romantismo folhetinesco, consegui analisar semanticamente a tua frase. Seguro é no sentido de preso, certo. Rodas o mundo em uma busca sem sentido algum e ao perceberes que não achas e nem sabes ao certo o que procurar, voltas para mim, como se nada tivesse acontecido ou como se eu fosse uma figura alheia ao teu mundo pelo avesso.
Achas justo falar em amor? Achas justo me manter tão presa, aportada em um cais superlotado de coisas inúteis? Não compreendes que mais do que palavras, eu sou feita de gestos, reciprocidade e algo verdadeiro e fiel?
Não estou te pedindo nada, apenas deixando bem claro que não estou segura. És pesado demais, confuso demais para o meu amor ded(l)icado.
Se assuma, se ache e saia dessa vida sem sentido, por favor não me leve junto. Não queira transformar essa coisa que lateja no meu peito quando te vejo em pó e nem rasgue a minha sacola de esperanças.
Ah, guarda toda essa tua realidade para você. Me deixa ficar no meu mundo de fantasias, deixa acreditar que um dia valeu a pena. Não me destrói e deixa eu te conservar sorrindo, nesse porta-retrato.
Solta,
Eu.

13 comentários:

Flávia disse...

Algumas vezes, muito melhor que ser porto, cais, é ser onda - inda e vinda, um tanto quanto sem paradeiro, mas livre no seu ir e vir.

Beijos :)

Thaís Salomão disse...

chorei aqui, juro.
e tou no trabalho.
isso não é justo, certo?

me vi falando essas coisas aí.
por isso tu é meu anjo da guarda: quando e se eu precisar de palavras pra expressar tudo isso que você disse aí, algum dia, usarei esse teu texto.

simples assim.


beijo

Anônimo disse...

Outros cais aguardam novos aventureiros.
Bunda na jangada,coragem e braços firmes.Até deixar o que já não é,perder-se no horizonte.


Gostei muito disso.
Beijo,amor.

Narradora disse...

Estagnado, inerte e paralisado... assim é o porto, meio água presa em poça... Bom mesmo é ser chuva, às vezes neblina presistente, outras tantas, toró espontâneo.
Bjs

Narradora disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

vc é unm dos meus orgulho.
pow tbm chorei aqui no trabalho
bjsssssssss

disse...

Palavras precisam de atos que as confirmem, e atos de sentimentos.

às vezes é melhor ficar com o porta-retrato sorridente.

Bjo

Araúja Kodomo disse...

Adoro os teus textos!!!
***

André disse...

todo dia vale a pena meu benzinho! to morrendo de saudade das convesas com essência que só tu tem.

TIAGO JULIO MARTINS disse...

É, menina, compreendo a moça que chorou.
Belo desabafo: intenso, espontâneo, verdadeiro, poético e ao mesmo tempo racional e analítico.
E não se preocupe em não saber o que se escreva, há coisas nossas que não conhecemos, é normal.

Parabéns, e obigado pelos elogios.

Sofia disse...

Lindo texto!
Você escreve supeer bem =)
parabéns..
beiijão :*

Salve Jorge disse...

Sempre lá no cais
Tem alguém sem paz
Porque outrém, sem mais
Nem menos
Esqueceu do mar sereno
Achando esse porto pequeno
Querendo ir além
Esse tal alguém
Sem ligar pra quem
Fica
Depois comunica
Que percebeu o amor na reciproca
E retorna
Sabendo que a 'quem' ainda adorna
Aquela baía morna
Que ele deixou seguro
Enquanto escapava pelo furo
Pensando ser isso o puro
Amor
Quando foi apenas mais uma dor
Pra quem sempre carregou todo o olor
Daquele contato...

Anônimo disse...

Agora me deixaste a pensar nessas
frases clichês e todo um mundo de significados que elas podem ter.
No final das contas o porto não é tão seguro assim...Sem qualquer comemorações em uma possível volta.
Adorei o texto.

bom restinho de semana
beijos.