26.11.08

Sobre uma porta que se abriu quando você bateu.


Ele acordou com uma certeza mais que certa aquele dia.Tinha certeza que precisava de algo que fazia falta, cada dia mais, e mais, e mais, até que seus dias tornaram-se uma busca sem fim por essas faltas que faziam falta no seu dia cada vez mais vazio.
Mas como ia dizendo, ele acordou com uma certeza naquele dia. Reparou no primeiro instante, aquele em que você abre os olhos e não pensa mais em nada, só numa grande e assustadora verdade: Algo estava fora de ordem. Algo havia mudado, ele sentia, só não sabia o que sentia. Sentia-se surpreso, afinal, como eu ia dizendo, seus dias tornaram-se aquela busca por um-ideal-de-vida-que-desse-razão-pra-viver, e ele já havia se acostumado, não esperava coisa alguma diferente, mas aquele dia, algo havia mudado e ele não sabia naquele momento, pensava também que nunca saberia durante toda sua vida.
Estava surpreso e pensava que aquilo podia se chamar de felicidade, sentia-se leve. Levantou num pulo da cama e a primeira coisa que fez foi tocar aquele samba leve em seu violão, cantou baixinho:

‘..Fim da tempestade, o sol nascerá..’

Cantava como numa prece, aliás, tudo que fazia parecia uma prece, um ritual decorado que ele nunca ensaiara nem no sonho mais distante, mas estava ali, guardado como um vírus que se guarda em segredo.
Estava feliz, percebeu. Isso era uma mudança. De onde ela tinha vindo? Por onde tinha entrado? Não importava mais, bastava a falta-que-não-tem-nome que entrava em sua cabeça todos os dias e o entupia de perguntas sem respostas concretas, lógicas. Ele apenas, ou pelo menos por hoje, sentia o prazer de estar vivo, de acreditar, mais uma vez, nas mudanças. Cantava sua felicidade sem fim.

‘..A sorrir, eu pretendo levar, a vida..’, agora em tom alto.

Estava lembrando o quão engraçado isso soa: ele estava feliz e, incrivelmente, não se preparava pra tal felicidade, não estava desesperado, na verdade não esperava coisa alguma, quem diria então coisa tão boa. Não juntou os velhos brinquedos para doar para o orfanato, a sua coleção ainda continuava a mesma, nada tinha acontecido de especial para a felicidade adentrar a sua casa. Será que é certo sentir-se assim, sem motivos? Estaria saindo do grupo de pessoas infelizes que passam dias e dias lamentando suas ilusões e varrendo para debaixo do seu tapete imaginário os medos de ser algo? Logo ele, por quê?
Foi à cozinha e tomou sua dose de cafeína matinal e acendeu um cigarro. Feliz, tudo era muito bom acordar de manhã, dar bom dia pras fotografias, fazer seu café, fumar um cigarro devagar, abrir a porta pra viver. Com a porta ainda aberta aquele vazio inenarrável estava indo embora. Tentou olhar-se no espelho, mas não se reconheceu. Ali não era mais uma pessoa-sem-ideal-de-vida-algum, mas sim um homem, sentindo-se feliz como um adolescente que acaba de dar o seu primeiro beijo. Se fazia algum sentido? Quem sabe?
Naquele segundo, tinha se cansado de tudo - Sua felicidade o fazia feliz.

4 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
André disse...

Da próxima vez não precisa nem bater pra entrar.
Temos a chave da felicidade guardada no coração.
:*

Sunflower disse...

eu não disse, eu não disse?

beijas

Ruberto Palazo disse...

As vezes encontramos a felicidade nos momentos em que menos esperamos, é ai que estamos distraidos e a felicidade invade nossa casa...

Beijos