3.7.10

São as verdades que você detesta ouvir que insisto em deixar bem claras para você. São as situações, os rótulos e os nossos estados diante daquilo que não nomeamos que exponho a todos os ventos que cheguem a tua casa. Te respondo com as mesmas perguntas de quem não tem nada o que fazer e tenta inflar o ego com o que, um dia, foi o número de telefone que mais tocava, a companhia certa e o corpo que te mantinha tranquilo. É simples, é normal, é humano. São coisas da vida, são aquelas vontades da madrugada. E eu poderia te ignorar, te contar todas as mentiras que por ventura aparecessem nos meus dedos, inventar uma poça de culpa e apontar todas as falhas, as faltas e as necessidades que ainda hoje gritam em mim. Mas você é fraco, não compra briga, não faz do silêncio o teu aliado. É sempre essa dúvida, essa indecisão sobre os dois pra lá ou dois pra cá e termina que nem no meio você fica. Acredita em um amor imenso que não passa do chão e implora, nas tantas entrelinhas milimetricamente escritas, pelas minhas loucuras sem fim. É a minha liberdade e a minha mania explosiva, espontânea de te contar como todo dia pode ser feriado quando se tem aquela vontadezinha de vida que te desequilibra, desespera. Você vai, some e volta quando as coisas fogem do teu grau aceitável de realidade. E acredita, com todas as letras das quais você não sabe se usa ou não, que eu estarei aqui, sorrindo ou com um cigarro nas mãos pra te contar sobre o ontem, só pra te fazer esquecer da vida, daquela vida. Eu sou aquela coisinha boa que você não pretende esquecer, não é?



Pena, grande pena, que você é que não percebe que todo aquele amor que ousei ter era teu. Tudo era teu. Pena que você sequer entende que cada fonema, cada frase, hoje, é uma desculpa que não arranja sentido na esquina. Que assumir, de vez e de cara limpa, seria a forma mais simples de tratar do assunto. Assumir a tua dúvida, assumir a minha vontade de ficar enquanto o mundo desmorona com meus discursos e só deixar a chuva cair sobre os nossos corpos colados. Seria mais fácil eu assumir que deitar no teu colo era a parte do dia que eu mais esperava ao invés de me mostrar tão decidida e cheia de mim durante as nossas conversas que a vida, lá fora, é mais interessante. Porque ai, talvez, eu desse espaço para você assumir claramente a sua vontade de reescrever a nossa história e mudar as falas, entender que “complexo” não era e nunca vai ser a melhor palavra para designar algo ou alguns dias que foram, para mim, inexplicáveis.


E fica nisso, sabe? Essa tua coragem que se resume a mensagens instantâneas e a minha paciência que se encurta a cada toque. No fim, eu termino selecionando uma ou outra coisa que ainda estão depositadas nas entranhas para revidar sei lá mais o quê, até você cair em si e entender que o medo é o elemento norteador do teu ser e que mesmo assim, mesmo assim, te querer faz parte dos meus poucos planos. E poderíamos deixar todas as poses de lado, as dificuldades e voltar àquela cama improvisada, daquele quarto que nem nosso era. Melhor, poderíamos tirar esse futuro que nunca se realiza da gaveta e escrever por fim um texto no presente, qualquer que fosse.


Seríamos mais honestos ao assumir que ainda há frio, calor, dança. Seríamos mais honestos em evitar o ponto final de um parágrafo que nem sequer sabe que foi parágrafo, sabe como é? Eu te diria todas as coisas lindas que eu guardei pra você, até quando eu achei que naqueles versos as tuas características destoavam nas rimas, até quando eu procurei, por todos os diversos sinais do teu corpo, as minhas ânsias maiores e nem sequer vi vestígios. No entanto, eu te mostraria, amarelas ou não, as diversas folhas escritas sobre a tua forma de rir que deixam os teus olhos bem pequenininhos e a sensação que causavas quando a tua boca se aproximava da minha e todas as coisas que só tinham que ser com você. Eu me desarmaria, completa, plena. Ou não.


Ou não. Ou isso foi outra situação que eu ainda, por não querer, compreendi. Ou isso foi uma música daquelas que eu não escutava, mas que era uma das suas preferidas. Uma oportunidade perfeita, quem sabe. Um personagem para textos longos e desequilibrados. Ah, menino, são tantas as possibilidades, são tantas as versões que também se cruzavam quando, sem temor, dávamos as mãos e que perderam o motivo, a graça quando caíamos na tal da realidade. Portanto, te escrever já não basta, de nada adianta abrir as portas porque você não vai passar do portão e eu ainda vou dizer que estou com pressa, que o mundo me chama ou qualquer outra coisa que seja mais rápida e fácil de dizer quando não se tem mais nada o que dizer. Te escrever é preencher uma folha que não será lida, não fará diferença e que, cedo ou tarde, será rasgada por ocupar um espaço alheio. Porém, está aqui. E entenda , por favor entenda que, nas entrelinhas – aquelas linhas em que eu esboço todas as verdades que não podem ser escancaradas por puro pavor do tamanho das minhas palavras e pelas distâncias absurdas que elas percorrem -, tudo o que eu preciso te dizer é que você foi e é uma das melhores coisas que tem me acontecido. Mas que isso é meu. Só meu. É simples, é normal, é humano.


E não me perguntes mais.

4 comentários:

Flávia disse...

É simples, é normal é humano. As ternuras, as amarguras, as rupturas.

Sobre-humano, mesmo, só esse sem-nome que a gente sente e sublima todo o resto, mesmo que seu depositário não o reconheça como seu.

Beijo :)

André disse...

e nada mais importa.

Anônimo disse...

Inconsistente!
Superficial!

Marguerita disse...

É teu e ninguém tasca!
Bjos