3.4.08

Berro

Não quero falar sobre amores rasgados nem sobre o azul da minha vida. Não falarei sobre um bom samba em ladeiras olindenses. Hoje, eu quero o grito. Hoje, eu berro.
Berro todos os pesares de alma, da incerteza, do medo.
Estou como os dois pontos de uma frase qualquer: à espera de uma palavra ou expressão que possa ,de forma sucinta, exprimir a idéia anterior. Com um detalhe apenas diferente, não sei a idéia principal do texto, não consigo me resumir a parágrafos.
Quando o “sonho” emudece e sufoca, o que fazer? Quando a palavra “futuro” carrega muito mais peso do que se pode suportar, desistir ou persistir?
Questionamentos, os tais questionamentos!
Fato é a prisão em que me deixei. Isso, quem me conduziu até lá foram os meus próprios pés. Me encontro, nesse exato momento, presa pelas asas a um elástico cuja deformação chega a meio milímetro. Meus tornozelos acorrentaram-se a desejos bonitos, aspirações futuras. O corpo volta-se para frente, em busca de saída, as pernas questionam porque não podem gastar toda a energia armazenada em cada oxigênio respirado. Enquanto isso, vejo pela janela a banda passar tocando um bom samba de roda. Não seria maldade demais aprisionar uma menina nasceu para ser borboleta? Não seria ilógico demais escutar o som, a poucos metros, e não vestir a saia rodada e a fita amarela?
Ah! As perguntas nunca serão respondidas no segundo seguinte. Só resta viver e levantar poeira. As amarras e correntes terão que ser arrancadas independente de saída, desejo, energia... Se solta, grita, move, berra. JÁ!

Sinto o meu corpo fluir. Todo esse turbilhão passará, acredite.
Não foi a toa que nasci no outono, renasço.
Re-nasço.

Voltarei a fazer poesia calada.


deixa a menina saaambaaar em paz

10 comentários:

nj.marabuto disse...

segura nas barras dessa tua saia rodada, rendas e sonhos... rodopia! vai! fecha esses olhos incrédulos e me dá teu doce sorriso, ainda que com a timidez de sempre no rosto, faz-me lembrar da atemporalidade em que reside a verdadeira felicidade... e de tanto rodopiar deixa o futuro e o passado dilacerarem-se tontos nessa centrífuga de abstrações absurdas... agora apenas és. e é tão bom ser.

suaves exasperos,
n.

Anônimo disse...

Fazer poesia calada é o melhor jeito de mostrar ao mundo e a si mesma quem se é.

Beijos.

Camila disse...

Que lindo, Clara!!!

"Não seria maldade demais aprisionar uma menina nasceu para ser borboleta?"

sim, sim... é maldade demais!!

dança, dança, voa, voa!!!

beijos daqui...

Araúja Kodomo disse...

Adoro os textos, lindo :)
***

Ana Cláudia Zumpano disse...

Quem nasce para ser borboleta, pra ir de flor em flor, sobrevoar uma grama verde, não pode nunca ficar parada, não pode ser uma borboleta paralítica! Ouvir um samba, fechar os olhos, rodopiar, tocar um pandeiro, tudo isso espanta tanta coisa guardada dentro da gente. O berro, berrar, gritar pros quatro cantos, um som, qq som... é libertar-se, é ser feliz nem q seja uma noite!
Adorei o texto, suas palavras sempre em ritmo de fortes tambores!

Que bom q me viu lá no Entre Vistas... as vezes meus escritos transmitem uma mulher q ainda nem nasceu em mim e já está cansada...rsrs mas eu sou bem nova sim, mas esses quase 20 anos tão me matando! rsrsrs

Lindo! Lindo! como sempre!
bjos ;*

Keidy Lee disse...

Porque há direito ao grito, então eu grito. (C. Lispector)

Bom fim de semana.

Renato Ziggy disse...

Perdoe-me, mas é que a minha identificação foi demais, Clara! Eu não gosto de ficar abafando meus "pesares de alma", porque eu preciso zelar pelo nome que me foi dado: Renato, que significa re-nascer.

É isso mesmo, berra de um jeito bem catártico e depois conta se curtiu a sensação de purgar-se. Bom demais isso aqui! Bjos!

Juliana Campos disse...

Que a borboleta alcance o mais alto dos seus vôos, sentindo a liberdade e a aventura tocarem-lhe suas belas asas coloridas!

Gigis disse...

Faço minhas as palavras do Chester Bennington,grito é uma terapia!

Filipe Garcia disse...

Gritar é bom. Gritar poesia então é um extravasar de alma. E eu não acho que seja justo aprisionar uma menina que nasceu com asas de borboleta. Bom que você, sabendo disso, optou por fazer poesia, ainda que calada.

Texto muito belo!

Beijos.