15.2.09

Eu queria escrever sobre essa sensação estranha, tentar descrevê-la por meio de metáforas vagas e convidativas. Falaria da agonia, do nó, na dor de cabeça misturada a minha sede de samba, essa grande confusão. Queria escrever sobre lágrimas, as minhas que não saem e esse choro silencioso e enxuto que está em mim, que mora em mim. Mas essa dose de melancolia é extrema, é contra-indicada e não cabe nos meus poros, entende? Nada de frases repetitivas, de coisas não ditas e músicas perdidas, chega. Chega também de tentar falar de você só para o texto ficar mais bonito, só porque aprendi a te traduzir bem com as palavras – na verdade, é a única forma que sei. Queria escrever linhas e mais linhas dizendo o quão lindo foi escutar a nossa música ontem, ou melhor, as tantas músicas que te fazem lembrar de mim reunidas em uma só voz, ao vivo. No entanto, já me proibi de destinar qualquer coisa a você. Aí, me vem à idéia de gritar esses versos para o mundo, para qualquer canto que saia desse quarto cheio de lembranças e fotos, essa necessidade de ser arte e de encontrar arte. Tem uma coisa que esqueci de te explicar ou não levas muito a sério: sou movida à energia, poderia escrever um monte de coisa sobre isso, te explicar direitinho a minha cara feia ontem, os pés que sambavam com dificuldade e o meu medo de estar sozinha em um jardim mal plantado. Isso, jardins. Juro, falaria do cheiro hipnotizante de jasmim e a o motivo da minha preferência. Te diria porque magnólia e desmentiria a tua frase das rosas amarelas, inclusive seria capaz de confessar que sou uma péssima criadora de plantas. Ou apenas fecharia os olhos e deixaria as letras se aglomerarem, me deixaria fluir até transbordar por não sei onde. Sim, posso te explicar o óculos escuros e as lágrimas e tal, mas não quero, melhor, não sai. Pode ser que um texto sobre qualquercoisaquepercaoar, que alague a alma ou pode ser um que pegue pela mão e faça tudo se transformar em roda. Um buraco no meio do peito chamado saudade, que tal? Que tal algo que represente a minha ultra-sensibilidade, como diz Tiago?
Quem sabe aquilo de apenas procurar, aqui por dentro, uma fase que diga tudo e ao mesmo tempo nada, o meu nada. Quem sabe um texto, só um texto. Mas, tantas linhas em vão somente para tentar dizer um não sai, não quero.
Ou quem sabe só um você é o estandarte da agonia que tem a lua e o sol do meio-dia.

* ao som de Vampiro, do Caetano.

2 comentários:

Erica de Paula disse...

" Essa necessidade de ser arte e encontrar arte"

Sabe que isso pulsa fortemente em mim, é como se sem isso eu não fosse "eu"...

Lindo texto!

Vc anda sumida linda!

Bjs :)

Salve Jorge disse...

Ele quis dizer a Clara
Que ela dissesse o que tivesse que ser dito
Já que quanto mais reflito
Quanto mais autor eu cito
Mais aumenta o saara
Entre o que se fala
E o que se entende
Mas como bem sei que Clara não se rende
Nem se cala
Afinal ela sabe que depende
Do para
Da tara
De quão cara
É prosa que a embala
E é tanta gente que nem repara
Que não há quem remende
Tamanho impacto
Da sua arte
Que poderia
Até deveria
No intertício do significaria
Traçar tal pacto
Lançar estandarte
Untado do sangue de cada parte
Dessa agonia...