2.7.09

Pois é

Enfim
Hoje na solidão ainda custo
A entender como o amor foi tão injusto
Pra quem só lhe foi dedicação
Pois é, e então...
São duas da manhã, peguei o celular, pensei e repassei toda a agenda extensa de telefones. Amigos, primos, colegas, você. Resolvi apertar aquele botãozinho verde desesperador, exatamente com seu vasto número: DDD, operadora e um apelido que te identificava só para mim. Durante os toques, pensei no que dizer, porém certa de não ser atendida devido ao avançar do horário, pois não é todo mundo que dorme quando o sol dá sinal para nascer.
A cada tum me vinha uma frase oitudobemcomovai?, quesaudadeapareçaparaumcafé?, táeufaçochá. Ou um desculpateacordarnomeiodanoite, sei que tens horários regulares, trabalho, tens motivos para querer distância, tens esse medo que te paralisa etc etc etc. Mas desacostumei do meu relógio e o joguei na primeira lixeira vermelha da cidade. Mais um tum e aquela dúvida se você realmente queria me atender ou se o barulho da campanhia era baixo demais para o teu sono exausto. Provavelmente presumisses minha embriaguez em algum bar cheio de fumaça, madrugada e amor, um cigarro aceso e eu te relembrando momentos tão delicados de nós dois, justamente aqueles que deveriam ser esquecidos. Outro tum e ninguém atende. Desisti e me bateu um arrependimento angustiante de um impulso inicial transloucado, tipo uma rebordosa de qualquer droga em falta, tipo um segundo que não foi bem aproveitado. Desisti.

Ainda por cima, aquela mulherzinha da telefonia me informa que nem caixa postal possui esse número. Mais um aviso teu para o meu silêncio.
No entanto, te digo, eu só queria um boa noite, vindo da tua voz doce.
Para você, o meu boa noite.

7 comentários:

Ni ... disse...

já vivi algo tão igual que volta a me doer...

Que no seu coração a voz ecoe o boa noite que necessitas...

H L disse...

"A cada tum me vinha uma frase oitudobemcomovai?, ..."

ja tive muito disso, muuuuito...
é uma ansiedade com nervosismo, ^^


.

Asas, sonhos e coração... disse...

"Parei pra pensar um pouco
Quão louco que está o mundo
Do jeito que as coisas andam
Um dia ainda largo tudo

Os Santos estão pirando
Não dão conta da demanda
Se eles sartam de banda
Nos resta seguir cantando

Deixo as mágoas para trás
Deixo tudo que não presta
Desligo os problemas
E chamo os amigos pra fazer a festa

Vou cuidar de sambar
Vou cantar pra valer
O samba é um santo remédio
Pra quem quer viver."


Amo vc, minha flor!

Fleur Anonyme disse...

Tum-tum, coração

Moça, há uma alma dentro de mim que insiste em manifestar-se misteriosamente concordando com as mais ásperas decisões que meu corpo resolve tomar, porém, tão misteriosamente se dá essa manifestação que não deixa escapar sinal qualquer de que aprova tais decisões, apenas se mantém inquieta e titubeante frente a tudo o que acontece. De tão vaga e cambaleante que anda esta minha alma, só tenho que concluir que esta, certamente, há de concordar com qualquer intrepidez de meu corpo.

Pois é, meu bem, faltam-me dedos para contar os dias pelos quais esperei por este teu apelo. Era-me muito óbvio que mais cedo ou mais tarde, sem pressa e de mansinho este apelo me chegaria, como as andorinhas que vêm pousar no meu fio telegráfico, Maria. E eu, que já não esperava mais do que palavras mal escritas, contornadas de embriaguez, fumaça e comprimidos – teu bordão – revelo-te que me surpreendi com melodia tão desesperadoramente bela e levemente irritante soando em plena madrugada de amor.

Desculpe o excesso de fumaça que se espalha neste recinto, mas hoje eu, que não tenho o mínimo talento para fumar, acendi um cigarro, enchi uma taça de vinho chileno e – no rádio, coincidentemente, tocava Templo de Chico César – pus-me a ler tuas palavras. Não, moça, não é todo mundo que permanece desperto em tão avançadas horas, exceto os que fazem "samba e amor até mais tarde". E a estes, não há apelo que vença a preguiça ou covardia de atender a tal campainha. Nessa hora "eu só queria que não amanhecesse o dia".

Enquanto a cada tum do teu telefone te vinham idéias de frases bem elaboradas, do lado de cá, a cada trim da campainha, me vinham idéias de frases cada vez mais ríspidas que eu poderia te declamar, sem versos nem prosa poética, para que, enfim, tu pudesse te recompor desta fraqueza em que caíste ao me pronunciar nestas tuas palavras. Porém, moça, eu só sei me fazer em "métrica e rima e nunca dor". Hesitei, desisti, pois me sairia poesia da garganta, o que certamente alimentaria a tua ilusão de que eu, um dia, "ao teu lado fui feliz". Perdoe-me, moça, por não compreender tão facilmente tuas palavras, por vezes creio que elas sequer possuem significado. Mas uma coisa eu compreendo: resistes em me tirar de teu pensamento. Ora fazes de mim flor, ora pássaro, por vezes borboleta. Faz-me cor, cheiro, sabor, faz-me tudo o que não posso ser. Não, moça, nada disso me cabe. Eu sou palavras. Não palavras de amor, sequer palavras de desamor, apenas palavras, nada mais que palavras.

Os meus motivos para que eu tenha me distanciado são, na realidade, os teus motivos, que tu, inocente ou desprevenida dos teus ímpetos de paixão, não consegues aceitar. Não há medo, moça, ao menos não de uma retomada da proximidade – veja como cá estou sem medo algum, novamente próximo – o que há é apenas uma determinada precaução em carregar comigo pedaço sequer de culpa pela tua ilusão. "Se eu ainda pudesse fingir que te amo. Ah, se eu pudesse! Mas não quero, não devo fazê-lo, isso não acontece"... Aceita o aviso meu ao teu silêncio. "Vê se esquece".

"Pois é,
fica o dito e o redito por não dito
(...)
somos sempre bons amigos
"

Boa noite!

Filipe Garcia disse...

Sua poesia congela, Clara. Descobri agora isso. É a coisa das mais bonitas. Casa ela em mim?

disse...

Clara, que linda suas palavras...q linda vc envolta em tanta poesia... :DD

Te descobri no blog do Filipe e gostei muito..voltarei por aqui, posso?? ;D

Bjoss :**

Anônimo disse...

mas é que não há coisa mais atordoante e gostosa que sentir esse aperto no peito do tum mal respondido.

não é gosto pelo sofrimento, não não. é pelo estar vivo que tenho vivido e que deves viver. :*